No meio da sala estava uma miúda que eu conhecia e que
dançava muito bem. Não era muito habitual aparecer nos bailes, e quando
aparecia era quase sempre acompanhada pela família (controladora).
Deixei tocar uma música, outra e reparo que tinha dado tampa a alguém que lhe
tinha pedido para dançar… vai daí, quando começou uma nova música, fui ter com
ela e sem uma única palavra estendo-lhe a mão ao que ela acedeu com um sorriso
enorme e um olhar discreto para a irmã que ao lado estava a segurar-lhe no
casaco.
Acreditem se quiserem, ainda hoje me lembro desta cena toda como se fosse hoje…
o penteado dela, as calças de ganga que levava, a blusa branca (desapertada até
‘ao maldito botão’), os brincos, as pulseiras e aquele perfume suave que só se
sentia quanto estava um pouco mais juntinho a ela…
Estava a pensar que não querias dançar comigo. Finalmente… raramente apareces…
e quando apareço quase não me ligas nenhuma, chego mesmo a pensar que me
ignoras… deixa-te disso e dança… eu danço, eu danço sempre que quiseres… e vê
se não me calcas… eu consigo dançar e conversar ao mesmo tempo… está bem, mas
agora dança, depois conversa.
Dançamos toda a noite… mesmo com uma ligeira dor de dentes
que me afligiu no início, mas que entretanto tinha parado… ou melhor, parou
porque bebi uns bagacitos para adormecer a boca. O pior é que adormeceu a boca
e o juízo.
A determinada altura, no meio do nada, ou melhor, no meio do entusiasmo,
pergunto à minha companhia da noite… «Queres casar comigo?»
… E não é que o raio da miúda disse que
sim!?
É caso para dizer que entrei no baile solteiro e saí noivo, e dava início aos
dois anos mais loucos de toda a minha existência.
Tudo de bom.
:)
;)